Amigos
Antes de começar essa postagem, quero avisar algo que meus amigos já vêm me perguntando há um tempo...
...meu Visto foi CONCEDIDO, graças a Deus!
Agora, vou contar como foi sofrido esse Visto.
Como devem saber, fui realizar o procedimento para o Visa em Brasília, por motivos diversos. Por isso, o que eu relatar aqui pode não se aplicar às outras repartições consulares americanas. Mas engana-se quem pensa que, por ser a Embaixada principal dos EUA no Brasil o procedimento vai ser mais organizado ou rápido. Muito pelo contrário.
Minha entrevista havia sido marcada para as 12 horas do dia 09/02. Como eu ainda não havia pago a devida taxa no Citibank, resolvi chegar às 07:00 para entrar mais cedo e resolver tudo antes. Não adiantou, pois a entrada era dividida em quatro grupos: entrevistas das 07:30, 08:00, 09:00 e 10:00. Esse último horário englobava também as entrevistas das 11 e 12 horas (ou seja, a maior fila e o meu caso). Dessa forma, enquanto o pessoal dos outros horários não entrasse (mesmo os que chegaram depois de mim) eu não poderia entrar. Acabei por entrar somente as 09:30.
Na sua vez de entrar, é checada a identidade e se seu nome consta na lista e horários corretos. Após isso, existe uma revista dos materiais que carrega (mochila, bolsa...) e passa-se por um detector de metais. Celulares e eletrônicos em geral não entram, e a Embaixada não possui guarda-volumes. Pessoas que não irão requerer o Visto não podem entrar como acompanhantes (nada de levar a galera heim!), a não ser em caso de incapazes ou menores.
Dentro da Embaixada – que é gigantesca e uma obra de arte, diga-se de passagem – fui direto à agência do Citibank pagar a devida taxa de US$140. Podia ter pago essa taxa em São Paulo, mas eu gosto de emoção e preferi deixar para a última hora. Essa taxa não é reembolsável em caso de negativa de visto, só pode ser paga em dinheiro (nada de cheque ou cartões de crédito, a não ser correntistas) e também só pode ser feita em Reais, de acordo com a cotação do dia. Paguei R$238.
Após isso fui para uma fila enorme (maior do que as do antigo INPS), para entrega dos documentos e retirada da senha para coleta de impressões digitais. Quando chegou a minha vez, me pediram o passaporte, foto 5x7, recibo do Citibank e comprovante de renda. Não levei este último, pois pensei que como tripulante não precisava. Disse isso e a atendente então solicitou as cartas da agência e mandou aguardar.
Até essa parte fui atendido somente por funcionários brasileiros. Todos eles foram um pouco rudes, ao contrário dos americanos: esses foram educadíssimos. Curioso, não?
Aguardar... essa realmente é a pior parte. Não por causa da espera em si, mas porque o sistema de chamada das senhas é bem estranho. Minha senha era 036, a senha da menina que estava na minha frente era 421 e a chamada era aleatória. Eu mesmo fiz todo o procedimento antes da garota com a senha 421. Com essa senha fui chamado duas vezes: a primeira para retirar impressões digitais com uma americana, e a segunda vez seria para a entrevista em si.
===== Entrevista com o Cônsul Americano
Quem me conhece sabe que não sou uma pessoa ansiosa. Tiro de letra situações de pressão e posso esperar alguma coisa por horas a fio. Sou uma pessoa paciente e busco ser compreensivo. Dessa forma, não fiquei nervoso antes da entrevista, mas sim muito nervoso APÓS a entrevista.
Para entenderem, vou transcrever literalmente a minha entrevista com o Cônsul. Fui chamado mais ou menos às 12 horas e quem me atendeu foi uma moça bem jovem com cara de imigrante. De americana só o sotaque mesmo, e a entrevista foi através de uma cabine de vidro e em português:
Cônsul: Bom dia.
Ruben: Bom dia.
Cônsul: O Sr. é o Sr. Ruben Fonseca?
Ruben: Correto.
Cônsul: O Sr. trabalha?
Ruben: Sim.
Cônsul: Em quê?
Ruben: Sou Analista de RH.
Cônsul: Por favor, pode me entregar o seu comprovante de renda?
Ruben: Eu não trouxe comigo. Não sabia que era necessário.
Cônsul: Então o Sr. não tem comprovante de renda consigo?
Ruben: Não.
Cônsul: E contracheque, o Sr. trouxe?
Ruben: Também não.
Nesse momento ela fez uma pausa em silêncio, olhou e digitou algumas coisas no computador... e voltou a conversar:
Cônsul: Sr., é necessário o comprovante de renda.
Ruben: Eu não trouxe comigo, pois pensei não ser necessário. Meu visto é para tripulante, sou tripulante de uma companhia americana.
Ela então olhou as cartas da Staff Work/Princess (será que não tinha visto que eu era tripulante?) e continuou:
Cônsul: Você trabalha para a Emerald Princess?
Ruben: Não, esse é o nome do meu navio. A companhia se chama Princess Cruises.
Nova pausa dramática, e ela termina a conversa:
Cônsul: Sr., é necessário um comprovante de renda. Volte a aguardar que eu lhe chamo com a mesma senha. Obrigada.
Tudo isso não durou nem dois minutos. Vocês tem noção de como fiquei nervoso nessa hora? Por nossa conversa e pela rapidez da mesma, tinha certeza que meu visto seria negado, e já comecei a pensar na grana toda que gastei, nos dias que faltei ao trabalho para realizar o recrutamento, em como fui burro ao não trazer a CTPS e contracheque, se deveria ou não tentar o visto de novo, como avisar a Nicole do ocorrido...
Mil coisas se passaram pela minha cabeça durante as mais de duas horas que aguardei para ser chamado novamente. Nunca me senti tão mal e já estava decepcionado comigo por antecipação. Para distrair, comecei a observar o pessoal que fazia a entrevista e olhava o pessoal que tinha o Visa aprovado – saíam felizes e direto para o pagamento do Sedex – e o pessoal que tinha o Visa reprovado – saíam cabisbaixos e rapidamente se retiravam. Também aconteceu um caso bem estranho: uma mulher foi algemada durante a entrevista e levada pelos seguranças, sem reagir. Será que ela falsificou algum documento?
Quando eram quase 15 horas fui novamente chamado pela mesma americana. Ela simplesmente disse: “Seu visto foi concedido. Você pode ir ao caixa pagar o Sedex para envio do passaporte ao seu estado. Obrigada.” E me devolveu tudo, inclusive a documentação da Staff Work/Princess. Só ficou com o passaporte mesmo.
Alguém entende esse povo da Embaixada?
Depois, paguei o Sedex (R$30 para Minas) e rapidamente sai de lá. Ter o Visa aprovado foi uma das melhores sensações que já tive, ainda mais depois de tanta espera. Saí de lá sorrindo o máximo que podia, e contente comigo mesmo.
Quem quiser ter uma outra visão do processo do Visto Americano e, principalmente, da entrevista com o Cônsul, recomendo a ler o blog a minha amiga Leila (http://pegandojacare.wordpress.com/page/2/). Ela é Bar Server na Princess e irá embarcar ainda em fevereiro.
O que posso dizer de Brasília? A cidade é, no mínimo, estranha. Amplos quarteirões, ruas largas e sempre retas, terrenos imensos e vazios, ausência de polícia nas ruas (nesses quatro dias não vi absolutamente nenhum), trânsito quase sem motos, muito verde e atividades divididas por setor, quadras e superquadras...
Brasília é estranha, mas tem seu charme. Sua arquitetura é única e incrível, os órgãos públicos são imponentes e gigantescos, as ruas são muito limpas e bem cuidadas, consegue ser movimentada sem ser caótica. Apesar do calor infernal, consegui passear bastante por aqui. Como todo turista que se preze, visitei locais como o Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Senado e o Itamaraty – este eu visitei com um grupo de italianos velhinhos e muito gentis. Até locais não muito conhecidos (para não-brasilienses), como o Palácio do Buritis, eu consegui visitar. Ótimo para quem pensava que não teria tempo nem para uma foto.
Só consegui fazer isso graças a um guia de turismo muito bacana que conheci no aeroporto, ao chegar de São Paulo. O Sr. Juan me levou para todos os lugares, rodamos de carro o dia todo, me explicou e mostrou tudo, me passou na frente de algumas filas de visitação... e só cobrou R$50 por um dia inteiro de passeio. O brasiliense é realmente muito legal e orgulhoso de sua cidade.
====== Onde ficar em Brasília
Quando fui realizar o recrutamento em São Paulo comentei sobre o Albergue Praça da Árvore. Em Brasília fiquei no Albergue da Juventude, também da rede Hosteling International. Como alberguista nato e de carteirinha, tive um desconto. Entretanto, mesmo com esse desconto e o preço de baixa temporada, o albergue conseguiu ser o mais caro que já fiquei até hoje. Nada muito exorbitante se levarmos em conta os padrões hoteleiros da cidade, mas ainda assim caro.
A estrutura física do albergue em si é invejável, bem grande e com vários espaços amplos mas vazios (seria o padrão em Brasília?), passando um ar de conforto e receptividade. O quarto também não deixa a desejar, e possui serviços básicos de qualquer albergue – roupa de cama e toalhas limpas, internet, cartões telefônicos, etc. A turma que encontrei por lá também era ótima – conheci um acreano que me garantiu que o Acre não é lenda.
O único problema é a localização: não existe nada perto do albergue, nada mesmo. Se você precisa almoçar ou comprar uma escova de dente, é necessário pegar um ônibus ou táxi e ir para algum setor com comércio. Eu também não me senti muito seguro lá, pois além da já citada falta de policiais, o local é isolado e o portão fica aberto, sem câmera ou campainha eletrônica.
===== Em casa
Viajar é bom, mas chegar em casa é melhor ainda. Por isso esperei chegar aqui em Minas para dividir as novidades com vocês.
Como puderam perceber, meu processo para o Visto não foi difícil, apesar do sufoco que passei. A chance de ter o Visto pra tripulante reprovado é baixa: lembro-me do pessoal da Staff Work ter comentado que, desde a abertura da agência, apenas um candidato foi reprovado. Além do mais, que americano iria enfrentar a vida a bordo? Eles precisam de estrangeiros como tripulantes.
Se vocês derem uma olhada em outros blogs (especialmente o da Leila que indiquei acima) ou conversarem com tripulantes, verão que as perguntas feitas são sempre óbvias e que a entrevista é bem rápida. Tudo sem segredo.
Se eu puder dar uma dica, seria para levarem a droga de um comprovante de renda... imagina se eu tenho o Visto recusado por causa de uma coisa tão simples e fácil de se conseguir? Ainda mais pra mim, que estou esperando o embarque mas não estou desempregado.
Dessa forma, chegamos ao fim de mais uma etapa pré-embarque. Espero que vocês fiquem felizes como fiquei e, como sempre, espero ter ajudado quem tinha dúvidas. Se tiveram mais alguma, podem comentar ou mandar um e-mail.
Abraços do mineiro.
[Interior do Santuário de Dom Bosco, na Avenida W3 Sul em Brasília. Um lugar lindo, calmo e sereno que, como bom católico, não podia deixar de visitar.]
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