Olá amigos
Desculpem a demora em postar novamente. Havia prometido a mim mesmo que não abandonaria o blog, como infelizmente alguns tripulantes e ex-tripulantes costumam fazer. De qualquer forma, o motivo do “sumiço” será explicado no decorrer do meu post, e vou atualizar toda minha situação até agora para vocês. Vamos lá?
===== Dia do Embarque
Conforme avisado ainda no Brasil, no dia do meu embarque uma condução da Princess viria me buscar às 07 horas no hall do Hotel Hilton. A impressão que eu tinha que era o único tripulante lá hospedado logo foi desfeita... Havia mais de trinta, e alguns eu havia esbarrado pelos corredores e pedido alguma informação. De início, já deu pra perceber a mistura cultural que é a vida a bordo, pois tinha gente de literalmente de todos os continentes. Infelizmente eu era o único brasileiro, mas havia um português gente fina que fiquei conversando... Ele tinha “apenas” 23 anos de Princess.
Porém, antes de deixar o hotel, uma infeliz surpresa: havia feito uma ligação para a Sabrina do meu quarto, e não durou nem 20 minutos. O Hilton me cobrou US$79 por isso, e eu devia US$12 pelo acesso à Internet, o que fez com que o meu dinheiro quase acabasse (levei apenas US$100). Nessa hora, já comecei a me imaginar totalmente incomunicável dentro do navio até receber meu primeiro salário – o que realmente aconteceu. Eis porque não postei nada, não respondi nenhum e-mail nem coloquei fotos.
Ao chegar ao Porto de Everglades, antes de embarcar, você passa por uma checagem de documentos, exames médicos e passaporte junto ao pessoal do Crew Office e alguns funcionários da Imigração. Isso leva quase a manhã inteira, e seu passaporte fica retido com a Princess a partir desse momento. Eles explicam que é para a vistoria das autoridades nacionais por onde o navio passa. Logicamente, ao finalizar o contrato ou pedir demissão o passaporte é devolvido. Logo após, você já vai para o navio e o grupo é desfeito, pois os superiores de cada um vêm buscar os novos tripulantes. No meu caso foi o Sr. Paolo, um Maitre D italiano super gente boa.
O primeiro dia no navio é bem confuso. O Maitre D se apresentou, explicou algumas coisas sobre o setor, horários, segurança a bordo, nos entregou dezenas de documentos que deveriam ser lidos o mais breve possível, escala, nametag, cash card, chave, etc., tudo de maneira muito rápida e resumida, pois teríamos vários treinamentos durante a semana para aprofundar tais temas. Então fomos buscar os uniformes, conhecer o refeitório da tripulação (aonde eu iria trabalhar), Medical Center, Crew Office, Human Resources, cabine e finalmente fomos liberados para almoçar. Nesse meio tempo, fiz amizade com um rapaz chamado Gabor, da Hungria. Ele também está em seu primeiro contrato e nunca havia saído do seu país, além de ter o mesmo cargo que eu e não possuir um inglês perfeito. Ele é muito humilde e, toda vez que fala de onde veio, já vai explicando onde fica pois infelizmente ninguém se lembra ou entende. Identificamos-nos um com o outro rapidamente, e ele até agora tem sido o único amigo que tenho aqui.
Após isso, deveríamos descansar e procurar o nosso setor para começarmos nossas atividades. O meu primeiro dia já foi tenso: eu comecei às 14 horas e parei somente às 23, com apenas um intervalo de 30 minutos para jantar. Todo esse período em pé. Confesso que não foi fácil, ainda mais porque, após desfazer minhas malas na cabine, percebi que havia esquecido apenas uma coisa no Brasil: palmilhas para os pés.
===== Cabine
Lembra quando lhe falam na agência de recrutamento que a cabine é pequena? Bondade deles, a cabine é minúscula e o banheiro menor ainda. Entretanto, não deixa de ser confortável. Na cabine tem DVD, despertador, telefone, um armário grande o suficiente para guardar todas as minhas roupas, gavetas diversas, várias tomadas, espaço para guardar as malas, água quente saindo das torneiras, Wi fi e, caso requisitemos, um frigobar. Eu e meus colegas de quarto preferimos não requisitar, pois quase não ficamos aqui e nossas malas já ocupam muito espaço.
Falando neles, eu divido a cabine com um mexicano (David) e um ucraniano (Denys), ambos do mesmo setor que eu. Sobre o David, eu demorei quatro dias para finalmente conhece-lo, pois nossos horários nunca batiam. Como todos os mexicanos que conheci aqui, é gente boa as pampas, anda de chinelo havaiana, é fã de Tropa de Elite, assistiu Rio recentemente e sempre usa a camisa do Corinthians – um baita mau gosto, talvez eu dê minha camisa do Cruzeiro pra ele.
O Denys é, no mínimo, estranho. Ele é meio sério, mas do nada conta uma piada, ri, e volta a ficar na dele. Está no quarto ou quinto contrato e já dividiu cabine com brasileiro antes (só aprendeu um monte de palavrão). Ele também é um alcoólatra, no nosso primeiro dia na cabine ele já abriu uma garrafa de vodka e bebeu quase tudo (mas não ficou bêbado) e praticamente todo dia vai ao Crew Bar – aliás, não tem um dia que ele não me chama para ir até lá. Toda hora ele fica xingando e reclamando de alguma coisa em ucraniano ou falando sozinho, vive falando que odeia a vida a bordo mas mesmo assim sempre volta. De qualquer forma, é o que mais me ajuda, pois além de ter vários contratos já havia trabalhado nesse navio e conhece muita gente aqui.
===== Local de Trabalho
O primeiro dia de trabalho foi ao mesmo tempo cansativo e divertido, pois no meu setor só tem figura. Eu trabalho no Crew Mess – também conhecido como Hell Mess – com mexicanos, indonésios, ucranianos, indianos, um filipino (supervisor do dia) e um português (supervisor direto, o filipino responde a ele). Acima de todos, está o Maitre D italiano que havia falado, e acima deste um gerente (polonês) que cuida de todos os restaurantes. Sempre que os supervisores não estão por perto (o que acontece boa parte do tempo) o pessoal trabalha em marcha lenta e fica contando piada o tempo todo, brincando uns com os outros e com o pessoal que frequenta o Crew Mess e Staff Mess, bebendo vinho escondido e beslicando a comida dos passageiros. Quando os supervisores chegam, todo mundo fica sério e engata a terceira, trabalham rápido mesmo. Ah se eu pudesse gravar...
O trabalho em si é bem fácil e simples. O primeiro problema são as dores nos pés para quem não está acostumado (meu caso). Como esqueci a palmilha, meus pés doíam muito e ficaram inchados, tanto é que cogitei pedir demissão com uma semana a bordo, pois realmente não aguentava ficar em pé. Para minha sorte, o ucraniano que trabalha comigo disse que seu ex-cabin mate havia deixado para trás um calçado e uma palmilha, que ele me deu. Após isso, meus pés melhoraram 90%. Agora, se depender dos meus pés, consigo cumprir o contrato.
O segundo problema são os supervisores pegando no pé, sempre pedindo mais rapidez. Eu estava ficando encucado com isso, pois nunca havia sido cobrado em relação à rapidez em nenhum emprego anterior, mas os meus colegas me tranquilizaram, dizendo que os supervisores são assim com todos, independente de quantos contratos possuem. Acho que eles têm razão, pois não vi os supervisores pegarem leve com ninguém.
===== Treinamentos
Nas duas primeiras semanas o novo tripulante participa de treinamentos quase que diariamente, a maioria envolvendo segurança a bordo – além, é claro, do já famoso Drill Boat. Você pode dar a sorte de tais treinamentos ocorrerem no seu horário de trabalho (meu caso) ou horário de descanso (caso do Gabor), mas seja como for você não pode faltar em hipótese alguma.
Conheci muita gente bacana nesses treinamentos, em especial uma filipina chamada Roan (a única filipina mais ou menos no navio inteiro, diga-se de passagem), uma mexicana chamada Mirian, um carinha muito louco chamado Igor (Sérvia), a ucraniana Anna (que agora trabalha comigo), os instrutores de segurança Peter (Reino Unido) e Paolo (Itália) e o Gerente de Recursos Humanos Ruben, da Holanda (meu xará). Conversei com meu xará e me inscrevi no curso de inglês que existe a bordo, aonde ele é o professor. Como passamos vários dias em alto mar sem poder descer, creio que é um ótimo jeito de aproveitar o tempo sem cair no tédio e aprender alguma coisa. Também fomos apresentados ao capitão do navio, que nos mostrou uma apresentação em slides com enfermeiras gostosonas (ao falar do Medical Center) e bombeiros sarados (ao falar de combate ao fogo). O capitão não foi nenhum pouco sério, e não falou de nada especificamente... só contou vários casos engraçados envolvendo a vida a bordo, soltou piadinhas diversas e fez questão de frisar que ele está mais disponível do que imaginamos, que gostaria de saber o que a tripulação está pensando e sentindo. Coisas assim.
===== Navio
O navio visto por fora é enorme, mas pela televisão/internet parece ser bem mais. Por dentro ele é como um labirinto, bem difícil de acostumar ou se localizar. As cabines para Crew ficam no Deck 3, e elas não tem janelas – aliás, ficam abaixo da linha d’agua, de forma que, dependendo da localização da sua cabine (meu caso) você escuta o mar batendo contra o navio. As cabines para Staff ficam no Deck 4 e as dos oficiais ficam no Deck 8.
A maioria dos setores úteis à tripulação (Medical Center, refeitórios, Crew Office, Crew Area Office, Security Officer, etc.), fica no Deck 4, ao longo do “Blue Corridor”, um tipo de corredor pintado de azul que corta o navio ao meio. Através desse corredor, passageiros e tripulantes também conseguem acesso aos locais aonde o navio aporta, e da janela do Crew Mess dá pra ver tudo.
O Crew Bar, Crew Shop, a Internet Room e a piscina ficam no Deck 8, assim como uma pista de corrida que circunda o navio e proporciona ótimas paisagens e uma brisa refrescante, além de possuir várias mesinhas e espreguiçadeiras. Quando estamos em alto mar esse é meu lugar favorito, ainda mais porque quase ninguém vem aqui.
Uma pausa para falar do Crew Bar: tomem cuidado com essa lugar, é extremamente viciante. TODO DIA tem alguma coisa diferente, e está sempre lotado e divertido. Apenas lembre-se que provavelmente no outro dia você vai trabalhar.
Os demais decks são preenchidos pelos mais diversos setores, todos voltados aos passageiros: restaurantes, cinema, teatro, lojas, SPA, etc. Ainda não visitei quase nenhum e talvez nem visite os outros, pois além de não ter tanto tempo alguns não me interessam. Também não sei se eu tenho acesso vetado a algum setor, pois isso não é explicado no treinamento (apenas exigem que você esteja devidamente uniformizado). De qualquer forma, até agora, pude andar, visitar e conhecer qualquer lugar que eu quis, sem problemas.
===== Tripulação
A tripulação é composta basicamente de filipinos e algumas poucas pessoas de outras nacionalidades. Os habitantes das ilhotas compõem aproximadamente 60% da tripulação do navio e estão em todas as esferas – apesar de serem pouquíssimos os oficiais filipinos, eles existem. A maioria deles são boas pessoas, mas como são tantos deles no navio e como estão bem a vontade aqui (eles tem até canal de tevelivão próprio!), acabam sendo um pouco indiferentes e não se importantando com outras nacionalidades, nem procuram fazer amizade. Possuem alguns hábitos um pouco detestáveis – como mastigar com a boca aberta lotada de arroz ou somente falar em seu idioma horrível perto dos outros. Minha dica é: faça amizade se puder, mas não espere retribuição ou gentileza.
Logo após os filipinos, em número, vêm os indianos e indonésios. Os indianos são maioria na galley e cozinha, mas existe pelo menos um deles em cada setor. Também existem Staff e Officers indianos, mas todos ligados ao Security Officer – a propósito, exceto por um senhor do Nepal, todos do Security Officer são indianos. Já os indonésios só atuam como Crew, em sua maioria nos restaurantes e bares e uns gatos pingados na galley. Costumam ser legais, mas também são beeeeem devagares no trabalho, sempre arrumando uma desculpa para sentar e bater um papo.
Italianos também são numerosos, especialmente na Ponte de Comando, Engenharia e Restaurante (sempre com posições de liderança). Também existe uma Waiter italiana. Alguns são legais e engraçados, outros um verdadeiro pé no saco.
Mexicanos existem aos montes, todos Crew ou Staff, e a maioria trabalha em alguma posição nos diversos restaurantes. Na minha humilde opinião, são os melhores para se fazer amizade: sempre alegres, contando piada, chamando os outros de “cabrón” e “hermosa” e perguntando alguma coisa do Brasil.
Portugueses existem em bom número, a maioria é Waiter, cozinheiro ou supervisor de algum restaurante. São muito bacanas e toda vez que me veem já saem falando português ou inventando um monte de gíria e dizendo que estão conversando em “brasileiro”. Exceto pelo meu chefe (nem os outros portugueses gostam dele), todos são uns comédias.
Existem ainda ucranianos, sérvios, macedônios, romenos e húngaros aos montes, e externamente são todos bem parecidos: brancos, de cabelos e olhos claros. As meninas mais bonitas do navio são as sérvias, com certeza, e elas fazem muito sucesso aqui. Eu os considero os melhores funcionários do navio, especialmente os ucranianos: todos trabalham de maneira ordenada, sem reclamar, sem fazer corpo mole e sempre sérios em tudo que fazem. Só conversando com cada um para perceber as diferenças, e elas são muitas.
Há ainda muitas outras nacionalidades no navio, mas essas contam com poucos (às vezes apenas um) representante a bordo: escoceses, ingleses, alemães, poloneses, sul-africanos, canadenses, australianos, japoneses, russos, chineses da “Grande China”, chineses de Hong Kong (uma moça do SPA, descendente de ingleses), tailandeses, guianeses, peruanos, argentinos, nepaleses, entre outros. De brasileiro, somente eu, um Bartender (Fabian) e uma oficial que não sei qual posto ou cargo específico. O Fabian está há cinco meses no navio e só viu essa oficial umas três vezes. Ontem chegou uma fotógrafa, e daqui a duas semanas um parceiro do RS, Samuel Kaster, irá se juntar a nós. Está começando a ficar bom.
===== Alimentação
Não é tão ruim quanto se lê por aí, mas também não é muito boa. Há dias em que a comida é tão diversa e deliciosa que mais parece comida de passageiro; enquanto há dias que praticamente só tem arroz grudento e umas carnes esquisitas. O que nunca deixa desejar são as sobremesas: sempre bolos e tortas ótimas, além de muito sorvete.
Durante as refeições é que você vê as cenas mais curiosas: no café da manhã você vê húngaros comendo bacon e ovos mexidos, os indonésios comem pão seco e ovos cozidos, sérvios comendo pão e geleia, ucranianos comendo cereais e bebendo litros de suco de maça, portugueses comendo qualquer tipo de pão com MUITO café e os filipinos comem um ou dois pratos de arroz de carnaval (só sai em bloco) e verduras diversas. No almoço e jantar a coisa piora, pois junto a isso tudo vem os indianos com seu terrível Cury – às vezes eles fazem um tipo de prato comunitário, aonde cada um pega uma porção. Acho que já sei como é o inferno.
===== Comunicação
No navio vendem um cartão telefônico internacional a US$10, cuja duração varia do local onde o navio está, normalmente algo entre 45 minutos e 01 hora. O cartão de acesso à internet custa US$20 e garante acesso à internet que qualquer parte do navio (inclusive da cabine), mas é caríssimo: dura em média duas horas e meia a três horas.
Se você veio quebrado para o navio como eu, fique tranquilo: no primeiro dia o RH lhe entrega um cartão telefônico para que você entre em contato com a sua família.
Outra coisa: por US$5, no Crew Shop, você compra um SIM Card com um número de telefone americano. Ótima pedida para caso precise receber alguma ligação do Brasil.
====== Dá pra descer em algum porto?
Sim e não.
Para descer nos portos mexicanos e canadenses, você precisa apenas do seu Laminex – uma identificação de tripulante feita junto ao Security Officer. Entretanto, esse Laminex fica retido durante as suas duas primeiras semanas no Sapphire Princess. Isso acontece porque o navio precisa ter a bordo uma tripulação mínima em caso de emergência (In-port Manning ou IPM), e os novatos sempre estão entre os otários escolhidos para essa função.
Não preciso dizer que você só pode descer nos portos em seu horário de folga.
Para descer nos portos americanos, além do Laminex você precisa do I-95, uma autorização especial da Imigração dos EUA. Toda vez que o navio está em LA, os que ainda não possuem são conduzidos à Imigração para entrevista. O ucraniano que trabalha comigo conseguiu o I-95 dele após quatro meses a bordo, um dos mexicanos só conseguiu no segundo contrato. Da turma que foi comigo, todos os oficiais conseguiram (um português e outro italiano), alguns Staff (eram oito, duas mexicanas não conseguiram, os outros seis eram europeus ou australianos) e dos Crew – que eram cerca de 20, de todas as nacionalidades – apenas dois conseguiram, e este que vos fala é um deles (a outra é italiana). O motivo? Pra variar eu não sei, talvez porque eu tenho o Visa B1/B2. Até o Gerente de RH (meu xará holandês, lembram?) se espantou com isso e me disse que eu era um baita sortudo, pois normalmente eles não dão essa autorização no primeiro contrato, e logo após ele o pessoal do Crew Office veio me perguntar como eu havia conseguido. Vários Crew com mais contratos que eu não obtiveram o I-95. Essa é quarta vez em quatro meses que tenho “sorte” com as autoridades americanas, seria um sinal?
Uma curiosidade: dos que obtiveram o sonhado documento, apenas o brasileiro aqui veio de um país do “Terceiro Mundo” (odeio essa expressão). Todos os outros eram de países ricos (Europa e Austrália), e até mesmo europeus de países mais humildes – como os ucranianos e sérvios – não conseguiram.
De qualquer forma, fiquem avisados: se vão embarcar em algum navio que passe por território americano você tem a infeliz chance de não poder conhecer nada da terra do Tio Sam, pelo menos por um bom tempo. A Princess deixa bem claro que ela não garante que você consiga o I-95, isso é uma atribuição única e exclusiva da Imigração.
===== Minha situação atual
Estou sem poder descer do navio por duas semanas e trancado em outra cabine há três dias.
Eu não posso descer do navio porque estou de In-port Manning. Somente a partir da próxima semana terei essa oportunidade, justamente na última semana que faremos o México. Ainda bem pois, até agora, de interessante nessa vida on board foi só o navio mesmo.
Quanto a estar trancado há três dias, isso ocorreu por que estou de Medical Off. Nos treinamentos que você recebe a bordo, muito se é falado sobre contágio de doenças entre tripulantes e passageiros. Qualquer sinal, ainda que simples, já é motivo para a pessoa em questão ser “interditada”.
O domingo de páscoa foi um dia especial por aqui, com várias comidas diferentes, refrigerante liberado e chocolate às pampas, além de uma Missa Católica. Eu normalmente não como quase nada no refeitório, mas nesse dia aproveitei bastante e comi de quase tudo, e me empanturrei de chocolate. Como resultado, antes de dormir, passei muito mal e acabei vomitando tudo. O Denys, meu cabin mate ucraniano, ficou louco com isso... Disse que se eu não me apresentasse ao Medical Center, ele iria me reportar e eu poderia receber um Warning por isso – um tipo de advertência oficial. Com três Warnings você é enviado de volta pra casa e não trabalha mais na Princess.
No outro dia me apresentei, fiz alguns pequenos exames e preenchi vários formulários, aonde constavam coisas como “o que você comeu nos últimos três jantares”, “quais lugares sentiu os sintomas” e “teve contato com passageiros?”. Preenchi e expliquei que não procurei o Medical Center na noite anterior por não achar que era alguma coisa séria. A médica então ficou super nervosa, disse que essa minha atitude pode causar uma epidemia no navio, que se eu fosse médico eu teria embarcado como tal, que eu recebi os treinamentos e por isso sabia como proceder, coisas assim...
Após isso, recebi uma medicação e fui realocado de cabine, assim como os meus dois cabin mates. Nossa cabine irá passar por um tipo de dedetização e eu ficaria em uma cabine em separado pelos próximos três dias, sem poder sair para absolutamente nada, recebendo comida no quarto e a cada três horas atendendo uma ligação das enfermeiras perguntando como eu estou.
Tenho certeza que só vomitei porque comi muita besteira, só isso... É realmente necessário me prender por três dias? Na primeira noite até achei legal, pois descansei bastante... Agora, a partir do segundo dia já não aguento mais e não vejo a hora de sair dessa prisão: o quarto é minúsculo e sem janelas, onde fico sozinho o dia todo, sem conversar com ninguém, só vendo TV ou mexendo no computador. Prometo que se eu passar mal no futuro vou ficar bem quieto.
===== E agora?
Infelizmente, minha vida a bordo nessas duas semanas foi resumidamente isso: sem México, sem Califórnia, praticamente incomunicável, apenas trabalho e navio.
Na próxima semana poderei descer, e o navio passará por algumas cidades mexicanas muito interessantes: Puerto Valarta e Cabo San Lucas, além de retornar a Los Angeles. Finalmente terei alguma coisa para fotografar e poderei beber muita tequila!
Sei que a postagem de hoje não foi lá muito interessante, mas espero que o tamanho da mesma compense, e sei que servirá para mandar notícias para vários parentes e amigos. Talvez seja útil para o restante da minha turma que não embarcou, talvez seja útil para quem pretende embarcar, talvez sirva apenas como curiosidade. Comentem o que acharam.
Seja como for, espero contar com vocês nos próximos capítulos.
Abraços do mineiro... Ou como diria um famosíssimo mexicano: sigam-me os bons!
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